As Lontras Brancas do Rio Aquidauana: Mistério, Genética e Conservação
Se alguém dissesse que existem lontras “fantasmas” nadando pelo Rio Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, você acreditaria? Pois bem, a natureza adora surpreender! Em março de 2025 o G1 publicou uma notícia sobre novos registros de lontras leucísticas, onde fomos convidados a explicar um pouco sobre esses animais.
Desde 2019, registros fotográficos e relatos de moradores mostram que algumas lontras (Lontra longicaudis) da região de Aquidauana possuem uma coloração bem diferente do padrão. Essas lontras apresentam um fenômeno chamado leucismo, uma mutação genética rara que reduz a pigmentação da pelagem, mas sem afetar os olhos – diferentemente do albinismo. O que começou como um caso isolado se tornou um verdadeiro fenômeno local, e agora já sabemos: elas estão se reproduzindo!
Mas como isso é possível? O leucismo não é comum na natureza, pois pode comprometer a camuflagem dos animais, tornando-os alvos fáceis para predadores. Porém, no Rio Aquidauana, os pesquisadores notaram que essa mutação tem persistido por pelo menos seis anos. Em 2019, uma única lontra leucística foi avistada. Três anos depois, já havia uma família de lontras com este fenômeno nadando por ali. E, em 2024, novas imagens mostraram um filhote leucístico ao lado de um adulto de coloração normal. Isso sugere que essa mutação não está desaparecendo – pelo contrário, parece estar se tornando cada vez mais comum nesta localidade.
Nós do Projeto Ariranhas levantamos algumas hipóteses para esse fenômeno. A primeira é a questão genética: o leucismo é uma característica recessiva, ou seja, precisa ser herdada de ambos os pais. Se a população de lontras do Rio Aquidauana for relativamente pequena e isolada, a chance de dois indivíduos portadores do gene leucístico se reproduzirem aumenta. Isso pode explicar por que, em um curto espaço de tempo, o número de lontras com essa característica cresceu.
Outra possibilidade envolve o ambiente. Diferente do que ocorre em áreas abertas, onde animais de coloração clara podem ser facilmente detectados, o habitat das lontras no Rio Aquidauana oferece uma certa proteção. A água turva e a vegetação densa das margens podem minimizar os impactos da falta de camuflagem. Se não há predadores suficientes para tornar essa mutação uma desvantagem, então as lontras leucísticas podem viver tranquilamente e continuar passando esse traço genético adiante.
No entanto, essa história tem dois lados. Apesar de não ser um problema imediato, a persistência do leucismo pode trazer desafios no futuro. Se essa população de lontras continuar pequena e a endogamia aumentar, pode haver uma redução na variabilidade genética. Isso pode tornar os indivíduos mais vulneráveis a doenças ou menos adaptáveis a mudanças no ambiente, como alterações climáticas e degradação do habitat.
Por isso, os pesquisadores e a comunidade local seguem monitorando essa população especial. Cada novo registro ajuda a entender melhor a dinâmica dessas lontras e os fatores que permitem que o leucismo permaneça na região. Esse caso também reforça a importância de preservar os ambientes naturais e garantir que esses animais tenham rios limpos e matas ciliares preservadas para viver. Afinal, com ou sem pelagem clara, as lontras são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos. E quem sabe, no futuro, as lontras leucísticas do Rio Aquidauana não se tornem um símbolo da resiliência e da biodiversidade brasileira? Uma coisa é certa: a natureza nunca para de nos surpreender!
Fique ligado no Projeto Ariranhas para acompanhar mais descobertas e ajudar na conservação desses incríveis mamíferos semi-aquáticos.
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